Dados do Trabalho
Título
DIAGNOSTICO SIMULTANEO DE VARIANTES PATOGENICAS GERMINATIVAS NOS GENES BRCA1 E BRCA2 EM PACIENTE COM CANCER DE MAMA TRIPLO NEGATIVO
Introdução / Justificativa
Com o acesso cada vez mais frequente a realização de painéis multigênicos e o uso de sequenciamento de nova geração, houve um aumento de diagnósticos de variantes patogênicas germinativas (VP) em pacientes com câncer de mama (CM). Além disso, em alguns casos é possível identificar novas variantes de significado incerto (VUS), e/ou associação de VPs como ocorreu no presente caso clínico.
Relato de caso
Paciente feminina de 32 anos, etnia branca; atendimento realizado em dezembro de 2021 com queixa principal de nódulo mama direita há 2 meses. Negava sintomas associados, comorbidades e uso de medicamentos. Apresentou história familiar inconclusiva, não tinha certeza se uma tia paterna havia falecido devido a um câncer mama. No exame físico, associado aos achados em exames de imagem foi identificado um nódulo lobulado e irregular com 2 cm x 1,4 cm x 1,8 cm e com microcalcificações de permeio, localizado em UQL/QSL da mama direita - Birads 4b. Linfonodo axilar direito com 1 cm x 1,5 cm, submetido à PAAF com citologia negativa para malignidade. No exame de imuno-histoquímica produto da core biopsia foi descrito um carcinoma triplo negativo (Ki-67 de 60%). Paciente foi submetida a quimioterapia neoadjuvante (4 ciclos de doxorrubicina e ciclofosfamida e 12 ciclos de paclitaxel (AC-T), concomitantemente com a realização de painel genético germinativo; onde no laudo foi descrito VPs em genes BRCA1 c.843_846del (p.Ser282Tyrfs*15) e BRCA2 c.658_659del (p.Val220llefs*4); além de duas VUS nos genes ALK c.4748A>G (p.Asn1583 Ser) e DIS3L2 c.458A>G (p.Gln153Arg). A paciente apresentou resposta patológica completa e foi submetida a adenomastectomia/biópsia de linfonodo sentinela com reconstrução mamária com expansores teciduais, em agosto de 2022. No anatomopatológico não foi encontrada lesão residual na mama nem em dois linfonodos axilares. Foi submetida a radioterapia adjuvante (plastrão direito e campos de drenagem linfática: 2/46Gy – 23 frações), finalizando esta etapa em dezembro de 2022. No momento, em pré-operatório para troca dos expansores por próteses definitivas. Esse relato faz parte do projeto de pesquisa intitulado como "Relatos de Casos Clínicos em Oncologia"; e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (CAAE 31359820.2.0000.5564).
Discussão
Com o aumento da realização de exames genéticos na prática clínica da mastologia, atualmente 10% a 12% de todos os casos de CM são caracterizados como hereditários. A maioria das VPs são identificadas nos genes BRCA1 ou BRCA2. Pacientes que desenvolvem câncer de mama triplo negativo (CMTN) podem ser portadores de VP no gene BRCA1 em até 30% das vezes, dependendo da população estudada. Por outro lado, entre os portadores de VP no gene BRCA1 que desenvolvem CM, o subtipo CMTN é encontrado em cerca de 80% dos pacientes. A associação de VP no gene BRCA2 e CMTN é incomum (variando de 2% a 16%), sendo mais correlacionada com subtipos luminais. O diagnóstico de forma sincrônica de VPs em ambos os genes é um evento raro, com poucos relatos na literatura. De qualquer forma, quando ocorre o diagnóstico de VP em mais de um gene, a conduta de aconselhamento, seguimento clínico ou até mesmo conduta terapêutica deve ser baseado na VP que teria maior impacto em relação ao prognóstico do paciente. No presente caso, optou-se pela VP no gene BRCA1 para ser o referencial no aconselhamento, tratamento e realização de exames de seguimento oncológico. Além disso, será realizado monitoramento das VUS identificadas para verificar ajuste na conduta clínica.
Área
Mastologia
Instituições
Universidade Federal da Fronteira Sul - Santa Catarina - Brasil
Autores
MARCELO MORENO, SARAH FRANCO VIEIRA DE OLIVEIRA MACIEL