Dados do Trabalho

Título

APRESENTAÇAO ATIPICA DE LESOES EM MAMA: LEISHMANIOSE TEGUMENTAR

Introdução / Justificativa

A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença de evolução crônica, parasitária, não contagiosa, causada pelo protozoário do gênero Leishmania, da família Trypanosomatidae (FERREIRA; MAROCHIO; PARTATA, 2012). No Brasil, a LTA é uma enfermidade de notificação compulsória e no período de 2012 a 2016, registrou-se um total 94.154 casos confirmados, sendo 13,65% deles na Bahia. A principal forma de diagnosticar essa patologia é através do método parasitológico direto, apesar de haver outras maneiras. Atualmente são reconhecidas onze espécies dermatotrópicas nas Américas que causam doenças nos seres humanos (COSTA et al. 2003).
É de suma importância o conhecimento epidemiológico, fisiopatológico e apresentação clínica desta doença para que se possa melhorar a condução do caso de pacientes, moradores de áreas endêmicas, que são investigados para outras patologias, de tratamento mais complexo, atrasando a resolutividade do problema e onerando o serviço público de saúde. Por isso a relevância da apresentação deste caso clínico.

Relato de caso

M. M. G.C., 75 anos, sexo feminino, lavradora, procedente de Wenceslau Guimarães - BA; compareceu ao serviço de mastologia do Hospital Aristides Maltez, com queixa de "ferida no peito", encaminhada da Unidade Básica de Saúde do seu município de origem para investigação de câncer de mama. Na anamnese foi verificado que a paciente possuía uma úlcera na mama direita há cerca de 02 meses associado a linfonodomegalia axilar ipsilateral. Ao exame físico, a paciente apresentava-se com bom estado geral e a inspeção de pele e fâneros, notadas lesões ulceradas de bordos elevados e fundo liso, associado a lesões crostosas; distribuídas difusamente pelo corpo (dorso, membros inferiores) e a maior delas em mama direita. Na revisão dos sistemas, não foram encontradas alterações cardiopulmonares. No exame abdominal não foram observadas vísceras palpáveis, sem evidência de visceromegalias, ou dores às palpações, afastando a hipótese de associação com a forma visceral da leishmaniose. Durante o exame loco-regional das mamas, observou-se lesão ulcerada medindo cerca de cinco centímetros no quadrante externo da mama , com bordas elevadas e eritematosas , com presença de conteúdo granulomatoso e purulento, além de outra lesão crostosa próxima medindo cerca de um centímetro. Trazia mamografia (14/06/2018) BIRADS 4 - demonstrando em mama direita espessamento cutâneo difuso, edema do corpo mamário e adenopatia axilar ipsilateral; além de USG mamária (27/06/18) com os mesmos achados.
Diante dos achados clínicos, sugeriu-se Leishmaniose tegumentar; foi realizada uma biópsia incisional da úlcera na mama para avaliação histopatológica. E orientado início do tratamento com a administração medicamentosa de Anfoterecina B liposomal inicialmente na dosagem de 1mg/Kg/dia, com dose diária de 50 mg por via endovenosa.
O resultado da anatomia patológica sugeriu leishmaniose, não foram realizados mais exames complementares devido à resposta terapêutica satisfatória, com a medicação administrada. Após dois meses do início do tratamento , a paciente já apresentava cicatrização completa das lesões.

Discussão

O diagnóstico de leishmaniose pode ser dificultado, principalmente se o paciente não reside em áreas endêmicas e também pela vasta possibilidade de diagnósticos diferenciais (VERONESI, FOCACCIA, 1997). No caso apresentado, o paciente residia em uma região endêmica no interior do Estado da Bahia.
O fato de haver uma lesão ulcerada em mama direita com adenopatia axilar importante ipsilateral apontou para a possibilidade de se tratar de câncer de mama, patologia de conduta muito mais complexa que pode envolver tratamento cirúrgico, quimioterápico e radioterápico.
Em contrapartida, o diagnóstico da leishmaniose poderia ser realizado, de forma mais simplificada e menos onerosa, através do exame de PCR (Reação de Polimerase em Cadeia) que permite amplificar em escala exponencial sequência de DNA, identificando, assim mesmo, pequenas quantidades de DNA do patógeno (GONTIJO, CARVALHO, 2003).
O tratamento com a Anfoterecina B é altamente eficaz, apesar da alta toxicidade, tem menos efeitos colaterais e possui menor morbimortalidade que o tratamento envolvendo quimioterapia e radioterapia. O seu uso é limitado pelo alto custo e administração endovenosa (DE PAULA et al. 2003).
Os diagnósticos diferenciais de câncer de mama devem estar sempre em pauta durante uma consulta de investigação de lesão, principalmente de aspecto ulcerada. Neste caso, os dados mais relevantes que levaram a conclusão diagnóstica foi o fato da paciente apresentar outras lesões distribuídas difusamente em áreas como dorso e membros inferiores associadas com áreas crostosas, além do fato de ser oriunda de área endêmica com relato de outros dois membros da família que tiveram diagnóstico recente de leishmaniose tegumentar.