Dados do Trabalho
Título
POSITIVAÇAO DO STATUS DO TESTE GENETICO PARA MUTAÇAO NO GENE BRCA1 APOS QUIMIOTERAPIA COM PACLITAXEL E CARBOPLATINA: UM RELATO DE CASO
Introdução / Justificativa
O câncer de mama resulta de uma falha da regulação celular, correspondendo ao segundo tipo mais incidente em mulheres no Brasil, em especial nas regiões Sul e Sudeste do país. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam uma taxa de incidência ajustada de 41,89 casos por 100.000 mulheres em 2023. A etiologia do câncer de mama é multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais. Dentre as causas genéticas, mutações nos genes BRCA 1, BRCA 2 e p53, genes supressores de tumor, são aquelas com melhor documentação na carcinogênese mamária. O presente relato visa descrever um caso de recidiva tumoral em mulher jovem, em mama contralateral, com alteração do resultado de painel genético após tratamento quimioterápico.
Relato de caso
Paciente de 42 anos, sexo feminino, fez uso de anticoncepcionais hormonais orais por, aproximadamente, cinco anos. Apresentou a menarca aos 16 anos, teve duas gestações, dois partos, sendo o primeiro aos seus 19 anos, e negou histórico de aborto. Seus antecedentes familiares incluíam uma mãe falecida por câncer de colo do útero aos 57 anos, irmã falecida por câncer de mama aos 41 anos e tia materna falecida por câncer de mama por volta dos 50 anos. No ano de 2011, desenvolveu um carcinoma invasivo tipo não especial na mama esquerda (ME), medindo 3,5 cm, sendo triplo-negativo à imunohistoquímica. A partir disso, a paciente foi submetida, em novembro de 2011, a uma mastectomia radical modificada em ME e seguiu o tratamento no ano seguinte com radioterapia e quimioterapia adjuvante, com utilização de Fluorouracil, Epirubicina, Ciclofosfamida e Docetaxel. Uma ultrassonografia (USG) mamária realizada em outubro de 2022 evidenciou nódulo sólido e lobulado em mama direita (MD) com dimensões de 1,1X0,9X1,4 cm, classificando-se como o Breast Imaging-Reporting and Data System (BI-RADS) 4A. Em meados de fevereiro do ano seguinte, uma nova USG de mamas revelou dois nódulos sólidos na MD. Uma das formações era heterogênea mal delimitada em quadrante superior lateral, medindo 1,8X1,4 cm, e a outra era periareolar com contornos lobulados, medindo 1,1X0,5 cm, ambos classificados como BI-RADS 5. Além disso, havia a presença de cistos, bem como duas linfonodomegalias em axila direita com medidas de 1,1X0,7 cm e 2,6X0,6 cm. A análise anatomopatológica do nódulo maior o definiu como carcinoma ductal infiltrativo grau 3, cuja imunohistoquímica foi de HER-2: 0, EP1: negativo, PgR636: negativo e Ki-67: 40%, já a lesão menor foi caracterizada como um carcinoma ductal invasivo grau 2 na avaliação anatomopatológica com padrão imunohistoquímico de Ki-67: 90%. Em 2014, a paciente apresentou painel genético para BRCA 1 e 2 sem indício de variação deletéria. Enquanto aguardava novo exame laboratorial, iniciou quimioterapia com Paclitaxel e Carboplatina, acompanhada pela equipe de mastologia em um serviço de referência na cidade de Recife. Recebidos os novos resultados, foi encontrada uma variação heterozigótica e patogênica em BRCA 1, mais especificamente, na região intrônica que sucede o éxon 16 do gene referido. A variante c.5074+2T>C, que substitui uma Timina por uma Citosina, é uma variante rara, descrita pelo banco de dados populacional ClinVar, encontrada em cerca de 10 famílias com câncer de mama, ovário ou ambos. Assim, a paciente continuou a ser acompanhada pela equipe de oncogeneticistas, sendo programada uma mastectomia radical modificada à direita e ooforectomia bilateral, além de permanecer em uso da Paclitaxel e Carboplatina, com a adição da Venlafaxina.
Discussão
O mapeamento genético das variantes de BRCA1/2 para classificação patológica é importante na triagem de câncer hereditário de mama e ovário, bem como na orientação terapêutica dos pacientes acometidos. Na literatura, encontram-se informações sobre pressão seletiva de terapias e mutações de reversão de BRCA, a depender da via de dano ao DNA. Stordal et al. buscou analisar mutações BRCA ½ em 41 linhagem de células ovarianas, encontrando mutações de reversão e uma alta frequência de mutações heterozigóticas. Sugerindo a existência de uma pressão seletiva contra mutações BRCA 1/2 durante adaptação à cultura celular, o que seria semelhante à pressão observada após linha de tratamento quimioterápica. A incidência de mutações deletérias BRCA 1/2 encontradas no referido estudo foi bem inferior comparada à incidência populacional. Outros estudos sugerem que mutações de reversão desses genes são mecanismos de resistência a tratamentos com drogas de platina e inibidores de poli (ADP-ribose) polimerase (PARPi). Por fim, percebe-se que a seriedade no acompanhamento genético de pacientes oncológicos é essencial, visto que, ainda que se configure como um fenômeno raro, mutações genéticas podem vir a se tornar positivas após o tratamento quimioterápico, o que interfere diretamente não só na abordagem terapêutica, mas também no prognóstico do paciente.
Área
Mastologia
Instituições
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO OSWALDO CRUZ - Pernambuco - Brasil
Autores
GLEYCE DA PAZ FERREIRA DA COSTA NETA, MARIA LUIZA VASCONCELOS MONTENEGRO, MARCELA VASCONCELOS MONTENEGRO, RENAN CAMILO BRAGA, DAVI MENDES LUNA