Dados do Trabalho
Título
USO DE CABERGOLINA EM UM CASO DE GIGANTOMASTIA GESTACIONAL BILATERAL EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA EM SÃO PAULO
Introdução / Justificativa
A gigantomastia gestacional (GG) é uma condição médica rara caracterizada pelo crescimento rápido e excessivo das glândulas mamárias em até 20 vezes, podendo trazer repercussões catastróficas. Estima-se que ocorra 1 caso a cada 100.000 gestações, podendo variar a prevalência de acordo com a região. Os grandes impactos deste quadro são a implicação estética associada ao peso excessivo que pode acarretar em distúrbios posturais e dores intensas, além do que, a estase venosa e o edema gerados no processo favorecem à quebra da barreira cutânea e, portanto, propiciam a necrose local, o aparecimento de úlceras de difícil cicatrização e infecção de partes moles. Embora controle clínico possa ser possível com hormonioterapia, muitas vezes estas pacientes acabam necessitando de cirurgias de urgência para controle local das complicações ou até mesmo de interrupção da gestação devido ao risco de vida materno. Nesse contexto, a cabergolina, um medicamento que pertence à classe dos agonistas dopaminérgicos, tem sido estudada como uma possível opção de tratamento clínico para estes casos. Esse fármaco age estimulando os receptores de dopamina e, consequentemente, inibindo a produção de prolactina - o hormônio responsável pela lactação e crescimento das glândulas mamárias, o que tende a interromper o crescimento das mamas nos quadros de gigantomastia.
Relato de caso
A paciente em questão é do sexo feminino, tem 20 anos, e é natural de Minas Gerais e residente em São Paulo. É primigesta e estava sendo acompanhada desde o primeiro trimestre em pré natal de alto risco em decorrência de diagnóstico de epilepsia prévio a gestação e que está bem controlado com o uso de carbamazepina. Não apresenta outras comorbidades e nega história familiar de gigantomastia. Refere que desde as 12 semanas de gestação começou a perceber o aumento do volume das mamas bilateralmente, com edema e eritema importante, tendo realizado diversas ultrassonografias que sugeriram o diagnóstico de mastite. A paciente fez uso de 2 ciclos de antibioticoterapia (amoxicilina e clindamicina), porém as mamas continuaram a aumentar de volume rapidamente. Veio encaminhada a este serviço com 25 semanas de gestação para avaliação especializada onde recebeu o diagnóstico de GG bilateral e iniciou-se prova terapêutica com cabergolina via oral 1mg/dia. A resposta a terapia com cabergolina foi expressiva reduzindo de forma considerável o volume do parênquima mamário e consequentemente o edema e congestão locais. O excesso de pele no entanto ainda se mantém, porém com poucos riscos de complicação. No momento deste relato, a paciente data 31 semanas de gestação, seguindo pré natal habitualmente sem outras complicações maternas ou fetais, e com volume mamário mantido desde a introdução de terapia com cabergolina que ainda permanece em uso.
Discussão
Por ser entidade rara e, nos estágios iniciais, facilmente confundível com abscessos mamários, a detecção e correto diagnóstico da GG pode ser retardada a ponto de chegar em estado catastrófico. Embora ainda não seja bem entendida, a etiologia desta condição parece estar relacionada a uma resposta anômala e excessiva do tecido mamário a estrogênios, gonadotrofina coriônica e à prolactina, mesmo em níveis normais desses hormônios, provavelmente por uma hipersensibilidade dos receptores hormonais deste tecido durante a gestação. Seus principais fatores de risco são a multiparidade e a história pessoal ou familiar de gigantomastia, e, em alguns casos, pode estar associado a doenças reumatológicas. O tratamento se baseia em melhorar as condições clínicas locais e evitar o aparecimento de complicações, além de suporte analgésico e psicológico. Visando a redução das mamas, a literatura menciona a possibilidade de uso de medicamentos como derivados de testosterona, estrógenos, tamoxifeno, hidrocortisona, diuréticos e supressores de prolactina. No entanto, não existe literatura robusta que suporte a recomendação de um destes fármacos para o período gestacional em decorrência de possível risco fetal. Medidas extremas como procedimentos cirúrgicos, se possível, devem ser evitados durante a gestação, sendo assim, a terapêutica clínica com adequado acompanhamento de bem estar fetal é uma possibilidade. O uso de cabergolina parece diminuir o tamanho da glândula mamária e evitar medidas extremas durante o período gestacional, mostrando-se uma opção viável para a melhora da qualidade de vida das pacientes afetadas pela gigantomastia.
Área
Mastologia
Instituições
Hospital da Mulher - São Paulo - São Paulo - Brasil
Autores
GABRIELA AMORIM BAIA, MARINA FLEURY FIGUEIREDO, GABRIELA OLIVEIRA GOMES, FELIPE ANDREOTTA CAVAGNA, ANDRE MATTAR