Dados do Trabalho

Título

DESFECHOS CLINICOS DO CANCER DE MAMA E SUA RELAÇAO COM O ACESSO A SAUDE NO BRASIL: UM ESTUDO PROSPECTIVO NA DOENÇA METASTATICA RECEPTOR HORMONAL POSITIVA/HER2 NEGATIVA - BREAST (BRAZILIAN OUTCOME FOR METASTATIC BREAST CANCER)

Trabalho aprovado na Plataforma Brasil? Inserir número do CAAE.

SIM. CAAE 42538621.5.2001.5505

Introdução

Introdução: A mortalidade por câncer de mama no Brasil apresenta taxas crescentes, em contraste, com os países desenvolvidos com diminuição importante nas últimas décadas. Tal disparidade reflete atrasos no diagnóstico e o acesso limitado a recursos terapêuticos, dentre eles as medicações essenciais no tratamento de primeira linha para a doença metastática. Os inibidores da quinase dependente de ciclina 4 e 6 (CDK 4/6) revolucionou o tratamento do câncer de mama metastático receptor hormonal (RH) positivo e receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) negativo pois elevou a mediana de sobrevida livre de progressão da doença e teve ganho de sobrevida global. Entretanto, no Brasil, o acesso a essa classe de drogas, especialmente para as pacientes tratadas no sistema único de saúde (SUS), ainda é restrito. A comercialização dos inibidores de CDK 4/6 foi liberada em território nacional em 2018, mas somente foram incorporados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) no final de 2021. No entanto, até o momento, ainda não estão acessíveis para a maioria dos pacientes.    

Justificativa

Espera-se demonstrar que as pacientes com câncer de mama metastático RH positivo e HER2 negativo tratadas com os inibidores de CDK 4/6 apresentem melhores desfechos clínicos, podendo incentivar políticas de saúde para garantir o acesso a essa classe de drogas a todos os pacientes indicados.    

Objetivo

O objetivo deste projeto é avaliar se pacientes atendidas pelo SUS podem apresentar resultados piores em comparação com mulheres assistidas pela saúde suplementar, principalmente devido ao acesso limitado a essa classe específica de medicamentos durante seus tratamentos. O estudo busca obter informações sobre os resultados clínicos de pacientes com câncer de mama metastático HR+ HER2- com base em seu acesso à cobertura de seguro de saúde em um cenário do mundo real.

Métodos

Estudo observacional prospectivo, multicêntrico, com pacientes divididos em dois grupos: um com pacientes do SUS e outro com pacientes atendidos no serviço privado. Assumindo que a razão de risco para o desfecho primário no sistema privado em relação ao sistema público de saúde é semelhante ao observado no estudo PALOMA (0,58), e que as taxas de eventos após 18 meses de acompanhamento também são semelhantes (aproximadamente 45% e 35%), então um total de 298 pacientes fornecerá o poder do estudo de 80%, nível de significância de 5%. Este cálculo considera uma proporção amostral de 1 paciente na rede privada de saúde para cada 2 pacientes na rede pública. Os critérios de inclusão são: mulheres com câncer de mama metastático HR+ HER2- que iniciaram tratamento de primeira linha a partir de 2019. As pacientes serão acompanhadas por 24 meses e estratificadas com base no uso ou não de inibidores de CDK 4/6. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética local e registrado no Clinical Trials (NCT05559528).   

Resultados

Foram avaliados 300 pacientes, sendo 199 (66,3%) no sistema público de saúde e 101 (33,7%) no serviço privado. A média de idade foi de 58 anos, e 76,2% estavam na pós-menopausa. Em relação ao local da metástase, 84,7% apresentavam doença não visceral, predominantemente com metástase óssea (75,7%), característica esperada desse tipo de tumor. A amostra da pesquisa foi homogênea nos dois grupos em relação o estadiamento clínico, status menopausal e sítio da doença metastática. O uso de inibidores de CDK 4/6 em qualquer momento do tratamento da doença metastática foi de 7,0% no SUS contra 90,1% no serviço privado. Dado preliminar do estudo com um tempo mediano desde o diagnóstico de câncer de mama metastático de 22,8 meses, identificou-se uma taxa de mortalidade de 10% no grupo do SUS contra 5% no grupo do serviço privado.  

Conclusão

Os resultados do nosso estudo destacam a disparidade no tratamento do câncer de mama metastático entre os pacientes em relação ao acesso aos serviços de saúde. Pacientes dependentes do sistema público de saúde apresentam maiores taxas de mortalidade. Esses achados são cruciais para subsidiar discussões sobre a melhoria das políticas locais em relação ao acesso a medicamentos que comprovadamente melhoram o prognóstico desses pacientes. Nosso estudo pretende incentivar políticas de saúde para garantir o acesso a essa classe de drogas a todos os pacientes indicados.