Dados do Trabalho

Título

HER2 E HETEROGENEIDADE TUMORAL EM CARCINOMA INVASIVO DA MAMA: IMPACTO CLÍNICO-PATOLÓGICO

Introdução

O receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2) é um elemento importante na carcinogênese da mama, apresentando-se amplificado e superexpresso em 15% a 25% dos carcinomas mamários. Além disso, trata-se de um importante alvo no tratamento dos tumores mamários. Recentemente, um novo tratamento à base de conjugados anticorpo-droga (CADs) anti-HER2 foi aprovado para o câncer de mama metastático com alguma expressão de HER2, mesmo que não seja devido à amplificação do gene. Com base nas Diretrizes ASCO-CAP (2018), os casos com escore 1+ ou 2+ com hibridização in situ negativa participaram de ensaios clínicos e se beneficiaram com a adição de CADs à quimioterapia. Apesar de serem classificados como HER2 negativos, a maioria dos tumores apresentou níveis detectáveis da proteína HER2, o que reforça a importância da avaliação precisa da imunomarcação desta molécula.

Justificativa

Nesse cenário, torna-se muito importante estudar o espectro de expressão imuno-histoquímica (IHQ) do HER-2 em correlação com fatores patológicos, por provavelmente estar associada à resistência de terapia anti-HER2 e conferir pior prognóstico.

Objetivo

Avaliar o impacto da heterogeneidade da expressão do HER2 em aspectos clínico-patológicos. 

Métodos

Foi realizado um estudo linear retrospectivo para reavaliar todas as lâminas de IHQ para HER2 em biópsias de pacientes com carcinoma invasivo primário da mama diagnosticados e tratados no Hospital da Universidade Federal de São Paulo entre 2019 e 2023. Foram coletadas variáveis clínicas (idade, lateralidade, tamanho ultrassonográfico do tumor à biópsia e BI-RADS) a partir dos prontuários. As lâminas de IHQ foram revisadas por três observadores e classificadas quanto ao status do HER2, seguindo as diretrizes ASCO-CAP 2018, bem como heterogeneidade e padrões de expressão. As análises estatísticas foram realizadas através do teste qui-quadrado de independência, teste exato de Fisher e teste Mann-Whitney U usando o software IBM® SPSS® Statistics (26.0) e foram consideradas significativas quando p ≤ 0,05.

Resultados

Foram incluídos 353 casos, com a média de idade das pacientes no momento do diagnóstico de 58 anos. A mama esquerda foi acometida em 191 casos (54,1%) e a direita em 162 (45,9%). Em relação a classificação de BI-RADS, a categoria mais comum foi 4 (140 casos), seguida da categoria 5 (119 casos). Dos 164 pacientes em acompanhamento clínico na instituição, 14 tiveram óbito como desfecho. Quanto às características patológicas, o carcinoma invasivo da mama do tipo não especial foi o subtipo histológico mais prevalente, com 304 casos (86,1%), seguido do carcinoma lobular invasivo, com 26 casos (7,4%). 296 casos (83,9%) foram HER2 negativos e 42 (11,9%) HER2 positivos; 15 casos eram HER2 2+ (4,2%). Entre os casos negativos, 235 eram HER2 0+ e 61 eram HER2 1+. 287 casos (81,3%) eram HER2 homogêneo e, nestes, o escore 0+ era o mais prevalente, representado por 232 casos (80%). Entre os 66 casos (18,7%) com padrão heterogêneo de expressão, o escore primário mais prevalente foi o 1+, com 34 casos (51,5%), seguido de 3+, com 17 casos (25,8%). Tanto os carcinomas HER2 positivos, quanto a presença de heterogeneidade na expressão de HER2 foram associados ao desfecho óbito (p=0,003 e p=0,001, respectivamente). Além disso, o carcinoma invasivo da mama HER2 positivo apresentou tamanho tumoral maior em comparação com os carcinomas HER2 negativos (tamanhos médios de 25,6 mm e 31,3 mm, respectivamente; p=0,012); A heterogeneidade do HER2 não apresentou significância estatística quando associada ao tamanho do tumor (p=0,165).

Conclusão

Concluímos que a heterogeneidade na expressão de HER2 é prevalente e deve ser relatada em laudos patológicos, uma vez que pode constituir um risco adicional na progressão tumoral e na resposta medicamentosa, especialmente no cenário de tratamentos com CADs.