Congresso Brasileiro de Mastologia

Dados do Trabalho


Título

A DISPONIBILIDADE DA BIÓPSIA ASSISTIDA A VÁCUO PODE EVITAR PROCEDIMENTOS INVASIVOS DESNECESSÁRIOS? DADOS REAIS DE UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA EM SÃO PAULO

Introdução

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais frequente e que mais mata mulheres no Brasil. A detecção desta patologia em fases iniciais é passo fundamental para melhorar os desfechos do ponto de vista oncológico e tem sido o foco de políticas públicas em saúde em todo o mundo já há algum tempo. Nesse sentido, a mamografia (MMG) ganha espaço como exame de escolha para o rastreamento, porém frente a um exame alterado, principalmente de lesões não palpáveis como microcalcificações, a posterior investigação pode ser difícil em países de recursos limitados. Assim, a baixa disponibilidade da biópsia estereotáxica na maior parte dos centros do Sistema Único de Saúde (SUS), faz com que muitas vezes seja necessário realizar uma cirurgia de setorectomia diagnóstica. A biópsia estereotáxica a vácuo (VAB) é um exame realizado a nível ambulatorial, de caráter percutâneo e minimamente invasivo, que embora possa trazer algum desconforto para as pacientes, é seguro e rápido. Não costuma apresentar intercorrências e possibilita elucidação diagnóstica com maior amostra de tecido se comparado a outros tipos de biópsia por agulha, diminuindo assim as taxas de subdiagnótico.  

Justificativa

A biópsia estereotáxica a vácuo, quando disponível, possibilita diagnósticos histopatológicos de lesões iniciais de forma rápida e pouco invasiva, evitando assim procedimentos cirúrgicos maiores apenas com finalidade diagnóstica, o que acarreta maior morbi-mortalidade para a paciente e onera o sistema.

Objetivo

Analisar o perfil das indicações de VAB, bem como os resultados obtidos em um Centro de Referência em São Paulo.

Métodos

Trata-se de estudo observacional descritivo retrospectivo realizado no Centro de Referência da Saúde da Mulher de São Paulo - Hospital da Mulher, a partir de dados de prontuário de pacientes que realizaram VAB no período de outubro de 2022 a julho de 2023. Foram incluídas pacientes com lesões mamárias não palpáveis como microcalcificações, assimetrias ou nódulos, suspeitas de malignidade (BI-RADS 4 e 5) identificadas na mamografia e sem correlação ultrassonográfica. O termo de consentimento livre e esclarecido foi dispensado pelo Comitê de Ética e Pesquisa, por se tratar de coleta de dados de prontuário. O aparelho utilizado foi ATEC Sapphire 200 (Hologic, Estados Unidos), com sonda gauge 11. Fragmentos foram obtidos e encaminhados para estudo anatomopatológico; um clipe de metal foi colocado no local da biópsia. Quatro grupos foram analisados, com base nos resultados da biópsia: benignos, lesões precursoras, Carcinoma Ductal in Situ (CDIS) e malignos.

Resultados

Foram revistas 115 VAB com média de idade de 59 anos. 114 (99,1%) lesões foram classificadas em BI-RADS 4. Os resultados finais foram 83 (72,2%) lesões benignas, 19 (16,5%) CDIS, 10 (8,7%) carcinomas invasivos e 3 (2,6%) lesões precursoras. O número de complicações foi baixo, presente em 5 (4,3%) casos, com o sangramento sendo a única intercorrência, nenhuma delas necessitando de intervenção cirúrgica. Da amostra total, 29 (25,2%) tiveram histórico de CDIS ou câncer de mama invasivo. Desse grupo, 8 (27,6%) apresentaram novamente diagnóstico de in situ ou invasor. Apenas 19 pacientes foram elegíveis a procedimento cirúrgico mais complexo após o diagnóstico histopatológico obtido com a VAB. Desta forma, evitou-se 83,4% (96) procedimentos cirúrgicos excisionais diagnósticos desnecessários.

Conclusão

A VAB é uma excelente aliada no diagnóstico precoce de lesões não palpáveis suspeitas da mama. É um procedimento ambulatorial rápido, pouco invasivo e com baixo número de complicações. Sua disponibilidade, no entanto, ainda é restrita em muitos serviços, principalmente a nível de saúde pública, os quais precisam lançar mão da realização de biópsias cirúrgicas. Nesse sentido, a VAB é eficaz em reduzir massivamente as taxas de procedimentos diagnósticos invasivos e muitas vezes desnecessários, trazendo menos impacto estético e à saúde das pacientes, bem como menor impacto financeiro aos serviços de saúde.

Área

Mastologia

Instituições

Hospital da Mulher - São Paulo - Brasil

Autores

JÉSSICA OLIVEIRA AGUIAR, LOUISE VARGAS POLARO FRANCO, MARINA FLEURY FIGUEIREDO, ANDRESSA GONÇALVES AMORIM, ANDRÉ MATTAR