Dados do Trabalho
Título
CARCINOMA DE CELULAS ESCAMOSAS ASSOCIADO AO IMPLANTE DE SILICONE: RELATO DE CASO E REVISAO DA LITERATURA
Introdução / Justificativa
Desde a década de 1960, milhares de mulheres são submetidas a procedimentos com implantes mamários de silicone, para fins estéticos em sua maioria. Durante esse período, os implantes apresentaram diversas adaptações na composição, formato e cobertura da superfície, principalmente pelo espaço conquistado nas reconstruções após mastectomia.
Recentemente, a Food Drug Administration lançou alerta acerca de relatos de casos de carcinoma de células escamosas (CEC) na cápsula fibrótica que envolve a prótese de silicone. O mecanismo para isso permanece incerto. No mesmo sentido, o CEC primário da mama é uma doença rara, representando menos de 0,1% de todos os cânceres de mama, porém o CEC associado a prótese mamária é uma entidade extremamente rara, não havendo relato nacional.
Relato de caso
E. E. T. K., 38 anos, sexo feminino, com mamoplastia aditiva bilateral (implante de silicone, texturizado, 200 ml) há 18 anos. Apresentando aumentando do volume mamário esquerdo, associado a dor local. RNM de mamas apresentando volumosa coleção líquida peri-prótese à esquerda. Submetida à abordagem cirúrgica com capsulectomia anterior (parcial) bilateral e troca de implante. Cápsulas enviadas para anatomia-patológica, evidenciando Carcinoma de Células Escamosas Ceratinizante invasivo associado ao implante mamário. Admitida após, no Hospital de Amor Barretos, com importante abaulamento em mama esquerda e dor local. A avaliação ultrassonográfica demonstrou lesão expansiva hipoecoica, ocupando todo corpo mamário medindo 23 x 21,5 x 9,5 cm, insinuando nos espaços intercostais, estendendo-se para mama contralateral , com nódulo satélite no quadrante inferolateral. Complementado exames de imagem com tomografia computadorizada de tórax, foi possível visualizar acometimento de musculatura esquelética e parede torácica. Submetida a capsulectomia e explante a direita e mastectomia com ressecção de arcos costais (3, 4 e 5) e exérese de linfonodos axilares à esquerda aumentados, com necessidade de retalho dermocutaneo e posteriormente miocutâneo de grande dorsal, para fechamento de defeito torácico. O resultado anatomopatológico final demonstrou carcinoma de células escamosas associado ao implante mamário invasivo, moderadamente diferenciado, tamanho da lesão de 22 cm em seu maior eixo com infiltração de pele e papila. Demonstrou também invasão de músculo esquelético e arcos costais. Foram avaliados seis linfonodos axilares a esquerda que estavam livres de neoplasia, a cápsula de prótese de mama direita também estava livre de neoplasia.
Discussão
Utilizando-se da estratégia de busca squamous carcinoma and breast implant, foi realizada revisão da literatura na base de dados Pubmed, na data de 31/06/2023, complementada com os dados encontrados no site da FDA. Assim, foram encontrados na literatura, 21 casos de CEC associado ao implante mamário. A análise dos 21 casos revela alguns temas emergentes sobre o assunto, sem dados consistentes quanto à associação ao tipo da cobertura do implante (texturizado vs. liso), conteúdo (silicone vs. solução salina) ou localização (subglandular vs. retropeitoral ). O tempo médio desde o implante inicial até o diagnóstico foi de 18 anos, com quadro clínico semelhante entre as pacientes, que apresentavam dor e abaulamento mamário, com presença de líquido periprótese nos exames de imagem.
De acordo com a classificação de tumores da Organização Mundial da Saúde, para o diagnóstico de CEC da mama, é necessário a presença de mais de 90% das células malignas com diferenciação escamosa, ausência de outro sítio de primário de CEC e não acometimento de pele e mamilo. No caso do CEC associado ao implante, advoga-se, apesar dos poucos casos descritos, a possibilidade de um processo irritativo crônico da cápsula, que eventualmente desenvolveu metaplasia e displasia escamosa. Os primeiros relatos foram publicados na década de 1990 e em 22 de março de 2023, o FDA trouxe alerta sobre a raridade da doença, porém com importante agressividade e baixa sobrevida.
A apresentação clínica do CEC de implante é muito semelhante ao linfoma, o que exige dos cirurgiões da mama incluí-lo como hipótese diagnóstica diante de seroma de início tardio. Assim, além da avalição do seroma com os marcadores imuno-histoquímicos CD30 e ALK e citometria de fluxo para células T e células B para avaliar BIA-ALCL, também é possível considerar a análise para CK 5/6, p63, células escamosas e queratina aventando-se a possibilidade de CEC. Embora a justificativa para essa recomendação seja baseada em um número limitado de casos, o comportamento agressivo da doença, exige diagnóstico precoce, e terapêutica cirúrgica agressiva.
Área
Mastologia
Instituições
Hospital de Amor de Barretos - São Paulo - Brasil, Programa de Pós-graduação em Oncologia, Hospital de Câncer de Barretos - São Paulo - Brasil
Autores
IDAM OLIVEIRA-JUNIOR, MARINA IGNÁCIO GONZAGA, NATACHIA MOREIRA VILELA, CHRISSIE CASELLA AMIRATI, RENÉ ALOÍSIO DA COSTA VIEIRA