Congresso Brasileiro de Mastologia

Dados do Trabalho


Título

MIOFIBROBLASTOMA EM MAMA MASCULINA: RELATO DE CASO CLINICO

Introdução / Justificativa

O miofibroblastoma é um tumor benigno de apresentação rara. Quando acomete a mama, desenvolve-se principalmente no homem, numa idade que varia entre a sexta e oitava décadas de vida. É um tumor estromal,
derivado das células mesenquimais fusiformes, podendo aparecer em qualquer tecido do organismo, sendo mais frequente nas mamas. Apesar disso, representa somente 1% de todos os tumores da mama.

Relato de caso

Paciente do sexo masculino, 72 anos, natural de Ibirapitanga e residente em Belo Horizonte, casado, aposentado. Portador de hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM) não insulinodependente, portador do vírus da imunodeficiência humana desde os 30 anos de idade, realizando controle adequado, com carga viral negativa há mais de 10 anos. Redução progressiva da acuidade visual desde os 60 anos, com perda de cerca de 90% da visão. Em uso de enalapril, hidroclorotiazida, metformina, tenofovir, lamivudina e efavirenz. Nega alergias medicamentosas. Já operado anteriormente por causas ortopédicas. Nega tabagismo, nega etilismo. Não sabe informar sobre sua história familiar, pois é filho adotivo e não tem contato com seus pais biológicos.
Primeira consulta com equipe de Mastologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte foi realizada em junho de 2022, sendo encaminhado devido relato de aparecimento de nódulo em mama esquerda com cerca de um ano de evolução, sem dor. Ao exame físico apresentava fossas supra e infraclaviculares livres, axilas também livres. Na mama esquerda palpava-se nódulo de 2cm em borda areolar às 9h, móvel, endurecido, sem retração ou edema de pele, ausência de descarga papilar. Na mama direita, não foram encontradas alterações.
Realizou mamografia diagnóstica com descrição de nódulo retroareolar em mama esquerda, de contornos regulares, medindo 22 mm. Classificado em categoria 0 de BIRADS.
Realizou ultrassonografia das mamas e axilas que evidenciou mamas com pele, tecido subcutâneo e complexo areolomamilar (CAM) normais. Na mama esquerda foi descrito nódulo oval, hipoecoico, de margens circunscritas, de orientação paralela à pele, localizado às 9h, distando 1 cm do mamilo e 1 cm da pele, medindo 19 x 12 x 17 mm. Nas axilas, os linfonodos estavam de aspecto preservado. Classificado em categoria 4 de BIRADS.
Realizou core biopsy de nódulo suspeito, cuja histologia evidenciou material satisfatório com lesão fusocelular sem componente epitelial. O estudo imuno-histoquímica foi indicado para definição diagnóstica.
A imunohistoquimica concluiu a presença de lesão mamária fusocelular com baixo índice proliferativo, revelando imunopositividade para CD34, actina e vimentina. Apresentou imunonegatividade para pancitoqueratinas, concluindo-se o diagnóstico de miofibroblastoma de mama.
O paciente foi então encaminhado para avaliação pré-anestésica e liberado, após a realização de exames, do ponto de vista anestesiológico como ASA II (American Society of Anesthesiology), para setorectomia de mama esquerda. O procedimento foi realizado em setembro de 2022 em bloco cirúrgico sob anestesia local, monitorização contínua e sedação. O paciente teve alta no mesmo dia da cirurgia.
Apresentou boa evolução no pós-operatório, sem complicações da cirurgia. A histologia da peça cirúrgica evidenciou macroscopicamente uma lesão esbranquiçada, de limites irregulares, medindo aproximadamente 1,6 x 1,3 cm. À microscopia foi descrito tecido fibroconjuntivo e adiposo maduro apresentando proliferação fusocelular com núcleos levemente atípicos, formando um nódulo pseudocapsulado. Não foram observadas mitoses ou focos de necrose. As margens foram exíguas. A histologia foi compatível com neoplasia fusocelular sugestiva de miofibroblastoma.
O paciente teve uma consulta de retorno em dezembro de 2022, estava sem queixas, a ferida operatória completamente cicatrizada. Foi programado controle clínico em 6 meses.

Discussão

O miofibroblastoma é um tumor benigno. Acomete principalmente homens, fugindo do padrão que acompanha a maior parte dos tumores associados à mama. Apresenta maior incidência na população de sexo masculino entre a sexta e oitava décadas de vida, embora alguns autores mencionem prevalência semelhante entre homens e mulheres. Os tumores mamários benignos são ainda mais raros na população masculina, por isso, todo nódulo em homem adulto deve levantar a suspeição de lesão maligna. A patogênese do miofibroblastoma mamário é incerta. O tratamento consiste na ressecção cirúrgica do tumor, com a retirada de todo nódulo, que pode apresentar superfície de cor branco-acinzentada. Não há relatos de recidivas locais quando as margens são livres na peça cirúrgica. Não há evidências na literatura de metástase à distância após 15 anos de seguimento. Recomenda-se pelo menos 24 meses de acompanhamento pós-operatório.

Área

Mastologia

Instituições

Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil

Autores

ANGELA LOPARDI NICOLATO, DOUGLAS DE MIRANDA PIRES, PATRÍCIA AGUIAR BELLINI, NAYARA CARVALHO DE SÁ, DENISE HELENA RESENDE FONSECA