Dados do Trabalho
Título
LINFOMA ANAPLASICO DE GRANDES CELULAS ASSOCIADO A IMPLANTE MAMARIO: RELATO DE DOIS CASOS
Introdução / Justificativa
O linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante mamário (BIA-ALCL) é uma doença rara, constituindo apenas 2% dos linfomas não Hodgkin diagnosticados em todo o mundo e representando apenas 0,04 a 0,5% de todos os cânceres de mama. Foi relatada pela primeira vez em 1997 por Keech e Creech e está associada à implantação texturizada, biofilme de bactérias periprostáticas e predisposição genética do paciente. A imunohistoquímica expressa células CD-30 positivas e ALK negativas. A maioria dos pacientes apresenta doença localizada com excelente prognóstico. Neste relato, descrevemos dois casos de linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários.
Relato de caso
Duas pacientes com idades de 58 e 57 anos, compareceram ao consultório de Mastologia em 2021 com edema e assimetria na mama direita notados nos últimos 03 meses. Elas tiveram implantes mamários texturizados inseridos em 2013 e 2012, respectivamente. Negavam trauma ou infecção local e não apresentavam comorbidades. Ao exame físico, observou-se assimetria mamária com aumento de volume na mama direita, indolor à palpação e sem sinais flogísticos. Ressonância magnética de mama e ultrassonografia de mama foram realizadas para confirmar a presença de seroma subcapsular. Ambos as pacientes foram submetidas à punção aspirativa com agulha fina (PAAF). O estudo anatomopatológico confirmou proliferação de grandes células T e pleomorfos, compatível com linfoma anaplásico de grandes células associado a implante mamário. A imuno-histoquímica mostrou anticorpos CD 30, CD4, CD8, CD3, EMA e Ki-67 positivos. A mastectomia radical direita com capsulectomia total e posterior reconstrução mamária foi realizada por cirurgião plástico. As pacientes foram acompanhados no pós-operatório, evoluindo com resultados favoráveis .
Discussão
O linfoma anaplásico de grandes células associado a implante (BIA-ALCL) é um câncer raro, com poucos casos descritos na literatura, constituindo apenas 2% dos linfomas não Hodgkin diagnosticados em todo o mundo e 0,04 a 0,5% de todos os cânceres de mama. De acordo com recente estudo de série de casos, o risco cumulativo de BIA-ALCL aumentou de 29 por milhão aos 50 anos de idade para 82 por milhão aos 70 anos de idade. O tempo médio médio para o aparecimento do linfoma é de 10 anos. Na metanálise de Ramos-Gallardo, com 80 casos, a apresentação clínica mais comum foi seroma (67,33%), nódulos (13,8%) ou massas (22,1%). Um terço relata dor e um quarto apresenta sinais florísticos, como eritema cutâneo, úlcera, coceira ou erosão. Até 30% apresentam massa tumoral, normalmente sentida pelo paciente, com ou sem seroma. É importante ressaltar que qualquer apresentação de seroma após 1 ano de implante mamário, sem fator causal identificável, como trauma ou infecção, deve ser considerada suspeita de BIA-ALCL . Os linfonodos regionais são acometidos em até 20% dos casos, sendo os axilares os mais acometidos (93% dos casos), se houver acometimento linfonodal, a sobrevida cai para 75% após 05 anos, mas para 97,9% quando não há acometimento. A manifestação inicial impacta no prognóstico, pacientes com massa mamária geralmente apresentam infiltração difusa da cápsula e tecidos adjacentes, sendo classificadas como "BIA-ALCL infiltrativas" e com menor sobrevida global. As duas pacientes referidas queixavam-se de volumoso edema na mama devido ao acúmulo de líquido ao redor do implante, este era indolor e foi identificado seroma na ressonância magnética. Havia ausência de sinais florísticos e os linfonodos axilares não estavam acometidos. O implante texturizado é um dos principais fatores de risco, o mesmo tipo de implante que foi relatado em pacientes. Apesar de ser uma entidade clínica rara, mastologistas e cirurgiões plásticos devem ter conhecimento sobre as características da BIA-ALCL para o diagnóstico o mais precoce possível. Todos os casos suspeitos devem ser encaminhados para centros de referência especializados no assunto. Pacientes submetidos à cirurgia de implante mamário devem estar cientes da possibilidade de desenvolver este linfoma após a cirurgia.
Área
Mastologia
Instituições
Maternidade Escola Januário Cicco - Rio Grande do Norte - Brasil
Autores
LUIZ MURILLO LOPES BRITTO, NOELE GURGEL DÁVILA, JANAINA CRISTIANA OLIVEIRA CRISPIM, JADER RODRIGUES GONÇALVES , PRISCILA MEDEIROS SOUZA