Congresso Brasileiro de Mastologia

Dados do Trabalho


Título

ADENOMIOEPITELIOMA DE MAMA: RELATO DE CASO

Introdução / Justificativa

O adenomioepitelioma (AME) é uma neoplasia caracterizada pela proliferação de células epiteliais e mioepiteliais, a qual pode acometer glândulas salivares, pele, mama e pulmões. Na mama, é extremamente raro, representando cerca de 0,5% dos tumores desse órgão; acomete, geralmente, mulheres com idade média de 60 anos. A maioria dos tumores têm propriedades benignas, porém podem apresentar propensão a recidiva local, em cerca de 10% dos casos, ou malignização das células das duas linhagens. Tem apresentação clínica e radiológica bastante variável, o que, aliada à sua raridade, impõe dificuldades no diagnóstico pré-operatório. Relatamos, a seguir, um caso de adenomioepitelioma de mama de diagnóstico desafiador.

Relato de caso

F.N.A.C., 37 anos, G3P2A1, relatava amamentação por 6 meses e uso de contraceptivos orais por 8 meses. Referia cirurgia para implantes mamários. Na história familiar, relatava uma tia paterna com câncer de mama após os 60 anos e um tio paterno com câncer de próstata. A queixa principal era de um nódulo palpável em mama esquerda. O exame clínico demonstrava um nódulo irregular, endurecido, em QSL de mama esquerda, medindo 1,5 cm. A ultrassonografia mostrou um nódulo hipoecóico, de margens anguladas, paralelo à pele e sem acústica posterior, na topografia da lesão palpável, medindo 1,0 x 0,9 x 0,7 cm, classificado como BIRADS 4. Foi realizada uma biópsia por agulha grossa, e o histopatológico revelou carcinoma metaplásico com diferenciação condroide, sendo, porém, sugerido o estudo imuno-histoquímico para diagnóstico diferencial com outras neoplasias, dentre elas o carcinoma mioepitelial. A imuno-histoquímica, então, evidenciou achados que podiam corresponder a adenomioepitelioma ou proliferação adenomioepitelial associada a lesão preexistente, recomendando a ressecção completa da lesão, para melhor avaliação. A paciente foi, então, submetida, à ressonância magnética de mama, para planejamento cirúrgico, a qual evidenciou um nódulo irregular, com realce interno heterogêneo e curva cinética progressiva, em QSL mama esquerda, medindo 2,2 x 1,3 x 1,2, classificado como BIRADS 4. Realizada exérese da lesão, e o histopatológico foi inconclusivo, não conseguindo diferenciar entre adenomioepitelioma clássico mitoticamente ativo e adenomioepitelioma maligno, sugerindo, mais uma vez, a imuno-histoquímica. Essa, por sua vez, concluiu se tratar de um adenomioepitelioma clássico mitoticamente ativo. A paciente segue em acompanhamento clínico e imaginológico.

Discussão

O AME mamário é um tumor raro, que pode atingir mulheres em qualquer idade, com média de 60 anos; clinicamente, pode ser assintomático ou apresentar-se como um nódulo palpável. Os achados de imagem variam de massas, assimetrias e, mais raramente calcificações, na mamografia; na ecografia, mostram-se como nódulos de margens indistintas, microlobuladas ou anguladas. Geralmente são lesões classificadas como BIRADS 4 ou até mesmo 5. No caso relatado, a paciente tinha idade mais jovem que a média relatada na literatura, 37 anos, e apresentava um nódulo palpável, de margens anguladas na ultrassonografia. O AME pode apresentar também uma heterogeneidade na histologia, com focos de metaplasia frequentes, o que pode dificultar o diagnóstico em amostras de biópsias de fragmentos, requerendo-se a excisão completa da lesão para melhor estudo, fato observado no presente caso. Embora a maioria dos AMEs seja benigna, podem ocorrer transformações malignas de um ou de ambos os componentes celulares; mesmo as lesões benignas podem cursar com recidiva. Para evitar recidivas, recomenda-se a exérese ampla da lesão, com margens livres, o que foi realizado na paciente em questão. Quanto a metástases, possuem potencial restrito a quadros atípicos e a AMEs malignos. Devido à sua heterogeneidade de apresentação clínica, imaginológica e histológica, o diagnóstico de AME permanece como um desafio para especialistas, sendo necessária a estreita correlação dos fatores acima mencionados para o estabelecimento de um diagnóstico correto e seguro.

Área

Mastologia

Instituições

Instituto de Mama da Paraíba - Paraíba - Brasil

Autores

FLÁVIA CRISTINA NOGUEIRA RIBEIRO TEIXEIRA, CLAUDIA STUDART LEAL, VALERIA FÁTIMA BEZERRA COSTA ATAÍDE, IVAN ROFRIGUES CARVALHO FILHO, ALICE SLONGO