Congresso Brasileiro de Mastologia

Dados do Trabalho


Título

TUMOR DESMOIDE ASSOCIADO A IMPLANTE MAMARIO: RELATO DE DOIS CASOS CLINICOS

Introdução / Justificativa

Tumores Desmoides (TD) são neoplasias de partes moles raras e, apesar de localmente agressivas e com altas taxas de recorrência, são benignas. Em cerca de 0,2% dos casos ocorrem em tórax anterior e região mamária. São mais comuns em mulheres em idade reprodutiva e acredita-se que podem ter origem a partir de traumas, influência hormonal e suscetibilidade genética. Este estudo traz dois relatos de caso de TD concomitantes com a presença do implante mamário de pacientes atendidas em serviço de mastologia em Curitiba (PR) e foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética local (39_23).

Relato de caso

Paciente 1, feminina, 33 anos, percebeu lesão endurecida mamária com crescimento progressivo há 1 ano, dois anos após mamoplastia de aumento. Ao exame, tinha mamas de grande volume, ptose grau II e nódulo endurecido e fixo palpável em mama esquerda, sem alteração regional. Já possuía investigação com resultado de TD com B-cadenina positivo. A Ressonância Magnética (RM) mostrou lesão extensa, infiltrativa, irregular, de 65x49mm em quadrante ínfero-medial, junto ao músculo peitoral e a cápsula do implante, sem plano de clivagem entre ambos. Implantes em posição subglandular, íntegros. Foi submetida a ressecção da lesão em fevereiro de 2023, com remoção do tecido glandular adjacente, capsulectomia completa esquerda e ressecção parcial do músculo peitoral maior devido infiltração da lesão. No mesmo tempo cirúrgico, foi reconstruída com mamoplastia bilateral com retalho de pedículo inferior e troca das próteses. A análise da peça confirmou os achados prévios e as margens ampliadas foram livres. Apresentou boa recuperação pós-operatória, resultado estético satisfatório e encontra-se atualmente em seguimento. Paciente 2, feminina, 43 anos, percebeu nódulo em mama esquerda de rápido crescimento e deformidade local. História de mamoplastia de aumento há 3 anos. Ao exame, apresentava mamas de grande volume, ptose grau 1, com tumor fixo em mama esquerda. A RM demonstrou lesão nódulo ovalado, de margens circunscritas, de 61x55mm, localizado em quadrante ínfero-medial, entre a cápsula reacional e a porção póstero-medial do implante (íntegro), em posição retromuscular e com pequena quantidade de líquido ao redor. A análise por core-biopsy mostrou lesão fusocelular atípica. Optou-se, então, pela ressecção da lesão em maio de 2023, com achado intra-operatório de tumor bem delimitado, adjacente à prótese mamária esquerda, retromuscular, infiltrando região costocondral, com ampliação local da cartilagem. A biópsia de linfonodo sentinela foi negativa e foi reconstruída com mamoplastia bilateral redutora com pedículo inferior e troca das próteses. A análise final favoreceu o diagnóstico de TD, se estendendo até a margem da ampliação. Segue em acompanhamento pós-operatório, com satisfação estética.

Discussão

O aparecimento de TD concomitante à presença do implante mamário já foi descrito previamente na literatura, com uma revisão de casos estimando aproximadamente dois casos por milhão de próteses colocadas e uma média de 2,96 anos de intervalo entre a cirurgia e o diagnóstico. Além disso, na maioria desses relatos, os TD foram encontrados em posição profunda ou intramuscular e íntimos à cápsula protésica. A principal hipótese levantada pela literatura correlaciona o trauma cirúrgico com o desenvolvimento da lesão, já observada após procedimentos como toracotomia e dissecções cervicais, mas também se aventa a hipótese do trauma contínuo relacionado ao corpo estranho. Não há evidência de correlação com o material do implante, considerando a disparidade entre os eventos e o número de próteses inseridas. Em ambos os casos acima relatados, a lesão coincidia com os locais da dissecção prévia para inserção da prótese mamária, sendo um deles costocondral (implante retromuscular) e outro intramuscular (implante subglandular). O Consenso Europeu e estudos retrospectivos, priorizam como primeira conduta no TD a vigilância ativa, não-inferior a cirurgia em recorrência, considerando a possibilidade de sua involução espontânea em 20-30% dos casos. Em contrapartida, tumores de parede torácica sintomáticos, com progressão da lesão, tamanho inicial significativo e localização anatômica nobre pode ser adotada terapia cirurgia ou medicamentosa. Tratamentos adjuvantes, como a quimioterapia sistêmica e a radioterapia são controversas, reservadas se rápida progressão, irressecabilidade ou ausência de outras terapias. Margens macroscopicamente comprometidas foram associadas a maiores taxas de recorrência, enquanto microscópicas não foram consenso nos estudos. Nos casos, a conduta cirúrgica inicial foi a opção de escolha, considerando o tamanho e deformidade local, agregando resultado estético satisfatório e baixa morbidade. Todavia, o TD associado ao implante mamário é um evento raro, sem causalidade bem comprovada, sendo necessário melhor investigação fisiopatológica e de abordagem terapêutica.

Área

Mastologia

Instituições

Centro de Doenças da Mama - Paraná - Brasil, Hospital Nossa Senhora das Graças - Paraná - Brasil

Autores

CAMILLA VICTÓRIA WEIGERT, MARINA AHNISERET MAGNANI RIBEIRO, ISABELA CHAVES MONTEIRO SOARES, CICERO DE ANDRADE URBAN, CLEVERTON CÉSAR SPAUTZ