Congresso Brasileiro de Mastologia

Dados do Trabalho


Título

CIRURGIA MAMARIA EM MULHERES COM CANCER DE MAMA DE NOVO METASTATICO

Trabalho aprovado na Plataforma Brasil? Inserir número do CAAE.

Sim, CAAE: 27155114.1.0000.5505

Introdução

A cirurgia mamária não é o tratamento padrão para mulheres com câncer de mama de novo metastático. Apesar disso, estudos retrospectivos demostram ganho de sobrevida global para as mulheres submetidas a cirurgia para ressecção do tumor primário. No entanto, esse possível ganho de sobrevida pode ser decorrente a um viés de seleção inerente a esse tipo de estudo onde as mulheres com melhor prognóstico são selecionadas para realizar a cirurgia mamária. Os ensaios clínicos randomizados são os ideais para reduzir as incertezas e esclarecer se a cirurgia mamária é benéfica neste cenário.    

Justificativa

Aproxidamente 220.000 mulheres são diagnósticas com câncer de mama de novo metastático no mundo anualmente. Existe uma lacuna de conhecimento sobre o real efeito da cirurgia mamária para essas mulheres. Além disso, devemos lembrar que cirurgia mamaria é um intervenção acessível, de baixo custo e baixa morbimortalidade.

Objetivo

Avaliar a efetividade da cirurgia mamária em mulheres com câncer de mama de novo metastático.

Métodos

Esta é uma revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos randomizados realizada segundo metodologia Cochrane. Realizamos buscas usando os termos MeSH 'breast neoplasms', 'mastectomy' e 'analysis, survival' nas seguintes bases de dados: Cochrane Breast Cancer Specialized Register, CENTRAL, MEDLINE (por PubMed) e Embase (por OvidSP) em 19 de abril de 2023. Também fizemos a busca em anais de congressos incluindo a ASCO de 2023. Os critérios de inclusão foram ensaios clínicos randomizados de mulheres com câncer de mama de novo metastático comparando cirurgia de mama mais terapia sistêmica versus terapia sistêmica. Os desfechos primários foram sobrevida global e qualidade vida. Os desfechos secundários foram sobrevida livre de progressão local e sobrevida livre de progressão a distância.   Foi realizada a seleção de estudos, a extração de dados e a avaliação do risco de viés para cada desfecho utilizando a ferramenta de risco de viés da Cochrane.   A magnitude do efeito dos desfechos do tipo “tempo-para-evento”, como sobrevida global e sobrevida livre de doença foi estimada pelo hazard ratio (HR) e intervalo de confiança de 95% (IC 95%), utilizando o método de variância inversa genérico. As medidas de HR foram extraídas de cada estudo, seja diretamente da publicação ou indiretamente utilizando os métodos descritos por Parmar. Foi realizada análise por intenção de tratamento e utilizada como unidade de análise o indivíduo. Para os desfechos dicotômicos, as medidas de efeito do tratamento foram estimadas por meio do risco relativo (RR) e IC 95% utilizando o método de Mantel-Haenszel. Utilizamos o modelo de efeitos aleatórios, pois esperávamos heterogeneidade clínica ou metodológica, ou ambas, entre os estudos incluídos.  

Resultados

Incluímos cinco ensaios clínicos randomizados totalizando1368 mulheres com câncer de mama de novo metastático, 679 no grupo cirurgia e 689 no grupo de controle. A nossa metanalise não demostrou ganho de sobrevida global nas mulheres submetidas a cirurgia mamária associada a tratamento sistêmico quando comparadas as submetidas a apenas tratamento sistêmico (HR 0,89 IC95% 0,75 a 1,05). No entanto, a análise de subgrupo para tumores luminais mostrou que as mulheres submetidas a cirurgia mamária tiveram um ganho de sobrevida global de 18% (HR 0,82, IC 95% 0,69 a 0,96). Já para os tumores HER-2 positivos e triplo negativos não houve ganho de sobrevida (HER-2: HR 0,91, IC95% 0,70 a 1,17) (TN: HR 1,00, IC95% 0,61-1,63). Outro resultado interessante é uma tendência de benefício de sobrevida para as mulheres com apenas metastase óssea semelhante a estimada para os tumores luminais mas sem significância estatística (HR 0,83, IC95% 0,68 a 1,01).  A cirurgia de mama melhora o controle local da doença diminuindo o risco de progressão em 57% (HR 0,43, IC95% 0,32 a 0,58) e não altera a sobrevida livre de progressão a distância (HR 1,03, IC95% 0,77 a 1,36). Dois estudos relataram resultados de qualidade de vida, mas não foi possível realizar uma metanálise devido às diferentes ferramentas utilizadas por esses estudos.

Conclusão

Com base nas evidências existentes oriundas de cinco ensaios clínicos randomizados, a cirurgia de mama não melhora a sobrevida global de mulheres com câncer de mama metastático. Entretanto, mulheres com tumores luminais apresentam ganho de sobrevida com a ressecção cirúrgica do tumor primário. Acreditamos que a decisão de realizar a cirurgia de mama nessas mulheres deve ser individualizada e discutida por uma equipe multidisciplinar tendendo a oferecê-la pricipalmente para as que tenham tumores luminais e apenas metástases ósseas. 

Área

Mastologia

Instituições

Instituto do Câncer Oeste Paulista (InCOP) - São Paulo - Brasil

Autores

GIULIANO TAVARES TOSELLO, RACHEL RIERA, MARCELO ROCHA SOUZA CRUZ, CRYSTIAN BITENCOURT SOARES OLIVEIRA, BRUNA SALANI MOTA